Metafísica da Vida Cotidiana

Metafísica da Vida Cotidiana
(do amor como gesto de adeus...)


Falar de amor é demasiado fácil.
O amor é generoso...
Acolhe até mesmo o ódio.
Acolhe até mesmo a indiferença.
Falar de amor é inclusive banal.
Mas se do verbo não emerge o gesto que aquece,
A palavra se torna ninho sem palha; casa sem lar.
Torna-se um eco monótono da paisagem árida de si.
Se do verbo não emerge a mão que compartilha,
A palavra se torna escorregadia e vã.
Se do verbo não desponta a sinceridade, qual um raio de sol,
A palavra é pura ilusão de pertencimento.
È fácil demais fazer juras e promessas.
É fácil demais tatuar a esperança na pele do outro.
É fácil demais lamentar os enganos aos pés da desilusão.
É fácil demais culpar a vida por nossos desencontros.
Também é demasiado fácil empunhar o amor
E fazer dele uma arma contra o mundo,
Ou talvez uma bandeira de nossas vaidades mais íntimas.
E torná-lo mesmo uma defesa contra a necessidade de amar,
Contra a inevitabilidade de doar-se, à revelia de si mesmo.
Difícil é declamar o amor:
Conhecer seu ritmo.
Respeitar seu tempo.
Sentir as nuanças de entonação
Que sussurram aos labirintos do coração
Quando é preciso ser rápido;
Quando é essencial ir mais devagar;
Quando é tempo de silêncio;
Quando é momento de calar.
Quando o amor exige, quiçá, partir.
Porém do amor só aceitamos o que nos conforta,
Aquilo que afirma nossas intenções.
Os caminhos mais fáceis de serem decorados.
Os recantos mais amenos.
Já as esquinas menos movimentadas de nossos desejos,
Já os lugares mais ermos do coração,
Estes quedam esquecidos, ou sufocados, ou escondidos.
Nada da ruína solitária das decisões.
Nada das escolhas entaladas no medo.
Nada do vazio que habita na soleira da novidade.
Nada da desesperança que assombra.
Nada disso recitamos em nome do amor...
O amor, todavia, nos habita desde onde não o supomos.
E seguimos cegos com ares de clarividentes.
Somos analfabetos com gestos eloqüentes.
Somos ignorantes em vestes de mandarim.
Somos humanos em demasia...
Falamos demais...
Amamos de menos.
Às vezes o amor exige calar.
Às vezes o amor exige partir:
A mão que acolhe é mesma que acena um adeus.

Rodrigo de Barros
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Comentários

Conce Pereira disse…
Acho Rodrigo um lindo poeta !! E esta poesia é muito mais que bonita ...é profunda na fala sobre o amor.Ainda não tinha ouvido falar assim do amor...muito e muito bonito!
obrigada Rodrigo, por está ái e existir!
Anônimo disse…
Nossa!!! que lindo comentário sobre o amor!! =)

Abraço

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